De Largo do Matadouro à Praça da Bandeira
Retomando os posts depois de um tempo grande sem ócio, vamos
falar de um lugar em que passo todo santo dia útil e que, entre engarrafamentos
e alagamentos, tem muita história: a Praça da Bandeira.
No limiar do centro e zona norte, paradigma de bairro alagado em
tempos de enchentes até hoje, "Largo do Matadouro" foi o nome antigo da Praça da
Bandeira. A necessidade de criar grandes vias de locomoção rápida na cidade tornou praticamente invisível um importante resquício da história de uma instituição dos tempos do Império que chegou a dar nome à localidade: o pórtico do Matadouro Imperial de São Cristóvão.
Em meados do século XIX, os governantes da cidade chegaram à conclusão de que ter um matadouro em pleno coração do Rio de Janeiro não era algo saudável nem desejável. Num momento em que se começava a “civilizar” a capital do Império Brasileiro, decidiu-se transferir o antigo matadouro, localizado na atual Rua Santa Luzia, para um local mais distante, no caminho de São Cristóvão, logo após a passagem pela antiga Praia Formosa, cuja história de ocupação você pode ler aqui.
Em meados do século XIX, os governantes da cidade chegaram à conclusão de que ter um matadouro em pleno coração do Rio de Janeiro não era algo saudável nem desejável. Num momento em que se começava a “civilizar” a capital do Império Brasileiro, decidiu-se transferir o antigo matadouro, localizado na atual Rua Santa Luzia, para um local mais distante, no caminho de São Cristóvão, logo após a passagem pela antiga Praia Formosa, cuja história de ocupação você pode ler aqui.
O "novo" Matadouro foi construído a partir de 1846 e inaugurado em 1853, no
local onde hoje fica a Escola Nacional de Circo. Edificado no estilo neoclássico - como a imensa maioria dos prédios públicos da época - funcionou durante quase
trinta anos quando, graças à velocidade de ligação proporcionada pela linha férrea entre áreas antes
consideradas distantes, o matadouro da cidade
foi transferido mais uma vez, agora para bem longe, em Santa Cruz, eliminando de vez o incômodo do mau cheiro e dos urubus que essa atividade trazia para a cidade que se expandia rapidamente.
Do matadouro de São Cristóvão restou apenas o pórtico, recentemente restaurado, que está quase escondido dos olhos: praticamente desaparece diante da linha férrea, do metrô, das instalações da Escola Nacional de Circo, do prédio do INSS, do gigantismo veloz da Radial-Oeste, da nossa pressa...
Entrada do matadouro em 1863. Às vezes a gente tem que ter fé na internet com essas datas... |
O mesmo local em 1906. http://www.rioquepassou.com.br/andredecourt/wp-content/imagens/1092228200_f.jpg |
O pórtico do Matadouro. Foto de Augusto Malta, década de 1920. http://gestor.inventariodosmonumentosrj.com.br/arquivos/2017-04/1503937_1066593243354564_7261982831213516782_n.jpg |
O pórtico na atualidade, anexado à Escola Nacional de Circo. http://photos.wikimapia.org/p/00/04/65/15/50_full.jpg |
O local testemunhou momentos solenes, como o primeiro
hasteamento da nossa bandeira atual, em 19/11/1889, efeméride que lhe deu o
nome atual.
A Praça da Bandeira em 1911. Foto de Augusto Malta. https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/3c/b9/3c/3cb93c295a331e18a94eb6c700506a04.jpg |
Testemunhou a chegada do chafariz da Praça XV, em 1962, onde
ficou durante dezessete anos, até ser novamente transferido, em 1979, para a praça
Mahatma Gandhi, local onde ficava o Palácio Monroe.
A praça com o Chafariz. Data e autor desconhecidos. https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/3c/b9/3c/3cb93c295a331e18a94eb6c700506a04.jpg |
O chafariz na Praça Mahatma Gandhi, no local onde existiu o Palácio Monroe. https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/9c/bf/39/9cbf397833278ba757ce52df8af4f0b8--mahatma-gandhi-monroe.jpg |
Testemunhou inúmeros alagamentos, que tornaram a percepção
da história bastante viva entre os moradores e comerciantes do local, que
sempre estendem faixas de protesto estampando fotos dos seculares alagamentos
da região.
Enchente de 1940. https://raizdosambaemfoco.files.wordpress.com/2013/01/pc3a7a-bandeira-29-01-1940.jpg |
Enchente de 1942. http://lulacerda.ig.com.br/wp-content/uploads/2010/04/praca-da-bandeira.jpg |
Hoje abriga uma praça de concreto, espremida entre vias de
alta velocidade, por cima de um polêmico “Piscinão”, construído para minorar os
alagamentos – com eficácia duvidosa...
A Praça da Bandeira em 2016... https://oglobo.globo.com/rio/rio-tem-chuva-recorde-ruas-alagam-praca-da-bandeira-fecha-18863722 |
Nas minhas passagens diárias por lá, não posso deixar de
reparar que o local voltou a ser frequentado por moradores, depois de longos anos de abandono e isolamento, fazendo esportes de
manhã, ou deixando as crianças brincarem com suas bicicletas, patinetes e nos
equipamentos da ginástica da Terceira Idade que tanto alegram a garotada, à noitinha...
A Praça na atualidade. |
Ficou linda! Espero que seja para sempre.
ResponderExcluirBrilhante agora entendi porque o pórtico na Escola do Circo. Parabéns
ResponderExcluirA praça ficou feia e árida. Mas o bolsão está segurando as constantes enchentes de outrora
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