Pode dar até um filme interessante, mas como História...
A pedidos, posto aqui a adaptação
de uma resposta que dei a um texto que insinuava que toda a história de
Tiradentes era uma farsa, que ele tinha fugido do Brasil com a namorada, que outra
pessoa foi executada no seu lugar, que era maçom, etc. Você pode ler essa história
que deixaria o Conde de Monte Cristo orgulhoso aqui.
Pode dar até um filme interessante, mas como História...
A figura de
Tiradentes era conhecida e debatida décadas antes da proclamação da república.
Republicanos, monarquistas e até estrangeiros tinham as suas próprias versões
da história que, claro, eram contadas de acordo com seus próprios interesses.
Para os republicanos, tratava-se de um herói, bastando saber que vários clubes
republicanos levavam seu nome. Já os monarquistas procuravam mostrar Tiradentes
como uma figura secundária na Conjuração Mineira, e, principalmente, a sua
aproximação da religião no tempo em que ficou preso, abandonando os ideais
revolucionários.
Somente depois
da Proclamação da República é que a figura de Tiradentes começou a ser
trabalhada de fato como herói nacional, já que nenhum dos proclamadores tinha
unanimidade para se tornar o Herói da República. Por exemplo, Deodoro, que
proclamou a República, era acusado de ser amigo do imperador e monarquista,
tendo derrubado o Império mais por causa dos interesses do exército que por
apego ao ideal republicano; Benjamim Constant, o positivista, era chamado de
"general da espada virgem"; Floriano Peixoto aderiu à causa
Republicana pouco antes da proclamação, e sua fama de sanguinário não colaborou
para torná-lo o herói da república.
Nesse esforço
em criar essa simbologia republicana, Tiradentes,
por fim, acabou sintetizando o ideal republicano melhor do que outros possíveis
candidatos. Procurou-se solidificar o culto cívico a Tiradentes apelando à religiosidade
do povo através da identificação de sua morte com a morte de Cristo, basta ver
como ele foi representado nas famosas pinturas em que ele tinha a barba longa,
feições serenas como as representações de Cristo da época.
Tiradentes esquartejado, de Pedro Américo. 1893 |
Agora, quanto
ao texto, vou começar pela última frase (...Em
1822, Tiradentes foi reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira e, em
1865, proclamado Patrono Cívico da nação brasileira...) porque acho que tem
alguma coisa errada com essas datas...
Por que razão
o imperador D. Pedro I iria reconhecer Tiradentes mártir da Inconfidência
Mineira em 1822? Para celebrar a revolta de 1789 contra a sua avó, a rainha
Maria I? Para homenagear os conjurados que queriam proclamar uma república?
acho que nessa época D. Pedro deveria estar mais preocupado em consolidar a
independência do Brasil...
Em 1862 D.
Pedro II inaugurou a estátua que homenageia seu pai, D. Pedro I, no local em
que Tiradentes foi executado, que, por sinal, chama-se hoje Praça Tiradentes.
Não deve ter sido um mal-entendido, não é?
Outra coisa, o
primeiro feriado de Tiradentes foi proclamado pelo Governo Provisório
republicano, em 14 de janeiro de 1890, através do decreto 155 - B. O decreto
dizia:
São considerados dias de festa nacional: (...)
(...) 21 de abril, consagrada á (sic) commemoração dos precursores da
Independencia Brazileira, resumidos em Tiradentes; (...)
Tiradentes só foi declarado patrono cívico da nação brasileira através
da lei 4897 de 9 DE DEZEMBRO DE 1965, e não em 1865 como diz o
texto...
Agora, quanto
à questão da troca de Tiradentes pelo carpinteiro, será que a coroa portuguesa
seria tão descuidada com um homem acusado de traição? Os outros inconfidentes —
muito mais ricos e influentes que o alferes — foram degredados (ou seja, não
foram fazer turismo em Angola e Moçambique), ou assassinados, como Claudio
Manuel da Costa, enquanto Tiradentes, malandramente, teria se mandado para a
Europa com a namorada!!!
Ah, a cabeça de Tiradentes foi roubada depois de ficar exposta em Ouro
Preto para servir de exemplo para os moradores daquela região. Por mais feia
que estivesse, imagino que deveria ser possível reconhecê-lo quando foi exposta
ao público.
Bem, diante disso, acho que a versão “tradicional” da história está mais
próxima da realidade do que a fantástica, mas inverossímil, versão da fuga de
Tiradentes que tem corrido pela net...
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